De acordo com a apresentação desenvolvida pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, houve um aumento significativo nos casos de injúrias racial no esporte brasileiro. O estudo apontou um aumento de aproximadamente 52,27% em relação à 2018.
Nãos sendo exclusividade no Brasil, índices apontaram casos também no esporte internacional. 67 reclamações foram realizadas em território nacional enquanto 15 foram no exterior. Além dos casos de racismo, outros preconceitos também foram relatados, como homofobia e xenofobia.
Dos 82 episódios relatados, 38 foram efetuados contra os atletas, enquanto 8 à determinada torcida. Em contrapartida com o aumento de casos relatados, o número de penalidades abaixou a ponto de simbolizar apenas 10% da quantidade total de ocorrências.
Falta de apoio quase impediu realização do estudo
Segundo o presidente da instituição responsável pelo levantamento, a lacuna existente no que concerne as punições é uma questão que precisa ser abordada. Segundo ele, é preciso que os episódios sejam expostos para que alguma solução seja apresentada, bem como uma proteção às vítimas.
Diferentemente do ano passado, quando houve um apoio maior ao estudo, este ano o relatório foi compartilhado através das redes sociais do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. O ponto que mais acarretou na mudança foi a falta de apoio monetário para sua conclusão.
“Ano passado, o Ministério Público do Trabalho nos ajudou. Neste ano, em decorrência da pandemia, eles não puderam.Também não tivemos apoio de nenhum clube”, informou Marcelo Carvalho.
Racismo no futebol aponta para cenário nacional de genocídio
Esporte mais popular do país, o futebol se tornou um meio utilizado para a conscientização social sobre pautas que envolvem discriminação. Por ser, em sua maioria, composto por atletas que não fazem parte de alguma minoria, não é incomum que casos preconceituosos apareçam.
A fim de abranger ainda mais a população, o atacante brasileiro Marinho lançou a campanha “Poderia ser eu” que serve para alertar a população negra que atualmente é um dos principais alvos. Para o fundador, o esporte é um meio essencial para acabar com o genocídio de negros e negras.
Uma investigação realizada pela Fundação Abrinq destacou os problemas apontados por Marinho. Segundo a pesquisa,de 1997 a 2017 o número de assassinatos contra negros menores de 19 anos aumentou 429%.
Representatividade no esporte e luta pela causa antiracista
Negra e de periferia, Suellen, lateral-esquerda do Corinthians, trouxe a questão sobre representatividade como um ponto essencial para que o futebol seja engajado no combate à violência. Em sua avaliação, a importância da mídia também foi uma condição ressaltada.
“Foram mais de 300 anos de escravidão e até hoje um negro é morto a cada 23 minutos. As crianças se inspiram em jogadores. Elas têm jogadores como heróis e, por isso, é importante o posicionamento”, disse Suellen.
Roberta Pereira da Silva, pesquisadora de pautas sobre o racismo no futebol, apontou para a importância das atitudes de pessoas brancas na luta que, por sua vez, vem ganhando maior notabilidade em manifestações espalhadas a nível internacional.
Segundo ela, o futebol é categorizado pelo racismo que se instituiu socialmente, sendo necessário que pessoas pretas possuam uma rede de apoio eficiente. Vem sendo notado, segundo a pesquisadora, que a comissão técnica e os próprios jogadores não atuam como deveriam nestes casos.
Manifestações ganharam respaldo da Fifa em 2020
Em junho deste ano, a Fifa emitiu uma declaração comunicando seu posicionamento, que foi favorável às manifestações partidas de atletas negros. As manifestações antes eram punidas de modo sistemático por árbitros e agora não podem ser mais advertidas segundo o presidente Gianni Infantino.
Em concordância com Infantino o entendimento que todos devem negar o racismo, bem como qualquer outro tipo de violência pode abrir saídas para que, crescentemente, o esporte de maior popularidade do mundo, seja um meio utilizado no combate à discriminação.