Na última quarta-feira (9), a reportagem do UOL obteve e-mails trocados entre o Flamengo e empresas de manutenção de energia. As mensagens revelaram que existiam diversas irregularidades nas instalações do Centro de Treinamento Ninho do Urubu.
A diretoria do Flamengo não executou quaisquer conserto, e em fevereiro do ano passado, 10 jovens da categoria de base, que eram alojados no CT, foram mortos pelo incêndio que iniciou justamente nas fiações elétricas.
O time rubro-negro indenizou as famílias das vítimas. Após a divulgação recente dos e-mails, o G1 procurou pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro, que afirmou que os acordos já feitos podem ser revisados, já que foi revelado que o Flamengo sabia dos perigos.
Confira, na notícia abaixo, como os e-mails divulgados afetarão na Justiça.
Flamengo sabia de irregularidades e nada fez
Os e-mails revelados pelo UOL são de maio de 2018, o que revela que 9 meses antes da tragédia, a diretoria do Flamengo já estava ciente das irregularidades no sistema elétrico do CT. Por isso, as famílias que fecharam acordos de indenização, terão direito a revisão dos mesmos.
Os acordos fechados atualmente são com as famílias de Jorge Eduardo, Áthila Paixão, Samuel Thómas, Gedinho, Vitor Izaias, Rykelmo (família paterna) e Bernado Pisetta. As famílias de Christian Esmerio, Arthur Vinícius, Rykelmo (família materna) e Pablo Henrique ainda estão em processo de consenso.
Cintia Guedes, coordenadora cível da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, disse que algumas famílias tem o direito de pedir que os acordos sejam revistos, principalmente as que já fecharam a indenização.
Defensoria Pública já sabia que existiam ‘gambiarras’
Cintia acompanha o caso do Ninho do Urubu e oferece apoio às famílias desde o início do caso. Três dias após o incêndio, a coordenadora esteve presente no Centro de Treinamento. Segundo ela, os e-mails não causaram surpresa, pois ela viu todas as ‘gambiarras in loco’.
A coordenadora cível também falou que as famílias já a procuraram após a divulgação dos e-mails, e o que sabe é que os valores das primeiras indenizações foram muito baixos. Ainda, a profissional disse que já estão na justiça para que os valores se adequem a uma quantia igualitária.
Por fim, ela explicou que a revelação de que a administração do Ninho do Urubu sabia do perigo das fiações elétricas servirá como nova etapa para os processos judiciais:
“Até então, eles ( da administração) diziam que não tinha laudo técnico, nenhuma documentação de que eles sabiam das irregularidades das instalações elétricas. […] os eletricistas fizeram um laudo dizendo que tinha irregularidade, […] e tudo foi ignorado. O que temos agora é a prova cabal de quem eram as pessoas que poderiam ter evitado tudo aquilo”.
Conciliação entre família e presidente do Flamengo
Segundo Cintia Guedes, a Defensoria Pública solicitou uma audiência de conciliação entre as famílias e o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim. Entretanto, é esperado um aval do tribunal para que a reunião seja presencial.
“Entendemos que não é o tipo de processo que possa ser feito por aplicativo de conferência, a gente entende que levar as famílias é muito importante para eles, para o Poder Judiciário também entender toda a dor por trás dessas famílias”, ressalta Guedes.